Personalidades Palestram para Universitários Muçulmanos Sobre a Questão dos Refugiados

Na tarde do último domingo, 25, o Departamento Acadêmico do CALCEE, Centro Árabe Latino de Cultura e Estudos Estratégicos, realizou, juntamente com a organização Cinco Pilares, a palestra “Oriente Médio: Trajetória Social e Cultural”.

A pauta do encontro, ministrado pelo advogado Edgard Raoul Gomes Neto e a atriz da Globo Dani Suzuki, tratou das experiências de ambos com os refugiados sírios. Edgard, ativista desde 2015, deixou para trás o emprego e a vida confortável no Brasil para sentir na pele o que é ser um refugiado. “As minhas motivações foram duas principais: como advogado, resolvi entender de fato o que é esse tema tão complexo chamado Direitos Humanos, e também, como ponto principal que encontra meu projeto de vida – desconstruir ideias fixas e preconceitos para me tornar uma pessoa melhor, um filho melhor, um amigo melhor, um profissional melhor”.

Desencorajado pelas grandes organizações a acompanhar essa realidade de perto, ele insistiu e decidiu, há dois anos, ir a campo para verificar até que ponto os direitos humanos eram seguidos, se os tratados valiam na prática. “Ali eu estava convivendo de fato com o sofrimento das crianças que perderam seus pais, das mães que perderam seus filhos, dos maridos que perderam as esposas”.

Dani, por sua vez, se sensibilizou com as imagens das crianças sírias e decidiu agir. Estudou o Alcorão, viajou para a Turquia, Líbano e Jordânia, e hoje dirige um documentário sobre o assunto. “A partir do momento que tem crianças pedindo socorro para o mundo e eu estou vendo as fronteiras fechando, ninguém dando assistência, comecei a me movimentar”, conta a atriz, que mobilizou dezenas de outros artistas brasileiros e pretende aprender o árabe.

Além do documentário, a global encabeça um projeto, em parceria com Edgard, ainda em estudo de viabilidade, para o reassentamento de refugiados sírios em nosso país. Após negociações, o Estado brasileiro se comprometeu a trazer, até 2019, 3 mil sírios, e a iniciativa privada vem trabalhando possibilidades de realização desse acordo.

Ao final, o dentista Felipe Rossi apresentou sua ONG, Por 1 Sorriso, que atua por meio de programas educativos, preventivos e interventivos relacionados à odontologia, medicina e nutrição. “A ligação que o Edgard tem com o Oriente Médio eu tenho com a África, e a ideia de criar a ONG surgiu lá. Em minha primeira viagem a Moçambique tive experiências muito marcantes com a fome, doenças, miséria humana, e quando voltei para São Paulo falei: ‘Eu preciso fazer alguma coisa'”. Para o ano de 2018, a meta dos criadores do projeto é atingir oito Estados do Brasil e três países, e também está envolvida no auxílio a refugiados.

O público, majoritariamente composto por jovens universitários muçulmanos, discutiu sobre as possibilidades de ajuda aos sírios que vem ao Brasil, e o auxílio que podem oferecer por falarem o árabe.

Em um dos momentos mais marcantes da palestra, Dani relata o medo de um colega ator e muçulmano em ser mal visto pela sociedade ocidental ao falar da cultura e religião islâmica, e propôs a reflexão: “Hoje eu pergunto a vocês: porque vocês não contam ou ensinam a todos com o mesmo amor e prazer que um outro que vem falar de sua religião, seja lá qual for? Porque vocês também não estão se movimentando com orgulho pra trazer tudo o que vocês têm de bacana e apresentar pra gente? Vocês têm muito para mostrar”.

O Presidente do CALCEE, Sheikh Jihad Hammadeh, que viveu algo parecido com Dani e Edgard nas guerras da Bósnia e do Golfo, encorajou os jovens: “Até os nossos últimos dias, ainda há tempo de fazermos a nossa parte”.

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