Quarto dia de palestras aborda geopolítica e contemporaneidade
No penúltimo dia do curso “O Mundo Islâmico” três palestras abordaram o Islam sob a ótica da geopolítica e da contemporaneidade.
O professor Mohamed Habib, Pró-reitor da Unicamp, iniciou os trabalhos do dia com a palestra “O colonialismo europeu e seus reflexos na sociedade islâmica”. Num primeiro momento, fez uma reflexão sobre os perigos da estereotipagem do povo árabe e suas consequências. Lembrou, ainda, que o apelo religioso sempre esteve presente na política e na geopolítica – como se ações de caráter colonialista contassem com as “bênçãos divinas”.
Durante a exposição, o professor citou as várias invasões europeias aos países árabes, ressaltando o caráter de preconceito racial e humilhação que caracterizaram tais atos. Citou o surgimento do nacionalismo árabe para combater o imperialismo e, consequentemente, de grupos políticos islâmicos de diferentes países – Hamas, Frente Islâmica da Salvação, Al Qaeda etc – ressaltando que alguns atuam de forma radical e outros, de forma mais moderada.
A segunda palestra, intitulada “Movimentos de resistência nacionalista, terrorismo e os conflitos contemporâneos no Oriente Médio”, foi proferida pelo professor Murilo Meihy, historiador e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele apresentou aos participantes o conceito de Orientalismo, do intelectual palestino Edward Said, que sustentou que o Oriente é uma criação do Ocidente. “Foi uma imagem criada para justificar o poder colonial do Ocidente sobre o Oriente”, disse.
Meihy explicou os três maiores marcos geopolíticos do mundo árabe – a Questão Palestina, a Guerra Civil Libanesa e a Revolução Iraniana – e apresentou alguns conceitos do ativismo político islâmico: o Takfirismo, o Jihadismo e o Salafismo.
Quem fechou o dia foi o professor Fernando Brancoli, também da Universidadde Federal do Rio de Janeiro, com a palestra “Interesses estratégicos regionais, revoluções e contrarrevoluções e ao orientalismo como alicerce sociocultural”. Ele lembrou que a origem de muitos conflitos está em problemas persistentes como falta de reforma dos sistemas políticos; desemprego, sobretudo para os jovens com nível superior; desigualdade social; alta informalidade na economia e alta nos preços dos alimentos. “Também há governos corruptos e pouco democráticos e falta de liberdade de imprensa”, completa.
Brancoli comentou sobre fatos bastante noticiados pela imprensa como a Primavera Árabe, o conflito entre a Líbia e a Síria e a origem do Estado Islâmico. “Trata-se de um grupo que não tem mentalidade de Idade Media, mas também não é essencialmente moderno. Possui uma lógica hibrida e complexa que ressignificou práticas religiosas para atos políticos”.